terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Musculação na gravidez

Musculação para gestantes é um dos exercícios mais seguros

Gestantes que querem fazer treino de sobrecargas leves ? os exercícios com pesos, nome mais correto para musculação ? podem ficar tranquilas: como esse tipo de atividade é feito em ambiente controlado e com o auxílio de profissionais, ele pode ser uma das atividades mais seguras para a mulher grávida. Desde que, claro, seu médico a libere e acompanhe a evolução.



“A musculação, ao contrário do que prega o senso comum, não é necessariamente associada ao ganho de massa ou emagrecimento, mas pode servir para tonificar os músculos e ajudar na melhora da capacidade aeróbia”, explica Giulliano Esperança, personal trainer e wellness manager, que já montou e acompanhou de perto o treino de mais de seis atuais mamães no período de gestação.
“Lembrando que é um consenso que a intensidade de um exercício para gestante tem de ser obrigatoriamente de leve a moderado, e que primeiramente toda gestante deve comunicar o seu médico sobre o interesse na prática regular de exercício físico. Isso serve mesmo para aquelas que já são praticantes regulares de exercícios”, completa o especialista, que cita uma recomendação do Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (Acog, na sigla em inglês), que indicou que gestantes que apresentassem condições apropriadas, não deveriam se esquivar da prática regular de atividade física.
A grande ressalva, lembra Giulliano, é para atividades que envolvam prender a respiração, como acontece com a natação, por exemplo. “Em hipótese alguma a praticante deve realizar a chamada ‘manobra de Valsalva’, nome técnico para o ato de entrar em apneia, prendendo a respiração, pois isso pode levar ao aumento da pressão arterial e que impacta negativamente a condição da gestante”, alerta.
Ambiente controlado
A musculação é uma modalidade em que o fato de se ter um ambiente controlável, torna-a segura para a gestante. A sobrecarga deve sempre ser modulada para um estímulo aeróbio, diz Giulliano, ou seja, mesmo sendo um treinamento na sala de musculação, o estímulo muscular será sempre de baixa a media intensidade, que não visa à hipertrofia – aumento dos músculos –, mas à resistência.
Para a gestante, esse tipo de atividade física vai resultar em um aumento do bem-estar físico e mental e maior disposição matinal, por exemplo. “Além disso, as gestantes aumentam a chamada ‘consciência corporal’, fazendo-a ter maior noção dos seus limites físicos, dos seus movimentos e da relação do seu corpo com o espaço onde ela se movimenta”, explica Giulliano.
“Como o corpo e o centro de gravidade da gestante está em modificação, essa consciência corporal ajuda no equilíbrio – e evitar quedas é algo que toda grávida deve estar atenta – e impede que ela se machuque, pois os choques com móveis e outros objetos muitas vezes acontecem por essa falta de noção da extensão do próprio corpo”, completa.
Outro benefício claro é o fortalecimento da musculatura das costas, que com o aumento da barriga e do peso passa a ser mais exigida dia após dia. E toda essa movimentação também diminui os riscos de tromboses e problemas vasculares.
“E o conjunto disso tudo, até mesmo da capacidade aeróbia, vai resultar em um melhor preparo físico para o parto – um evento que é bastante intenso para o corpo, diga-se de passagem – e consequentemente se reflete em uma recuperação mais rápida”, afirma o profissional.
Exercícios também ajudam no controle de outras condições de saúde
Uma vantagem muito importante de uma rotina de exercícios físicos durante a gravidez é a redução do risco de diabetes gestacional (leia mais AQUI), que geralmente ocorre na fase tardia da gestação. Mesmo para gestantes que apresentam diabetes gestacional, o exercício pode contribuir para manter os níveis glicêmicos normais.
Mas é sempre bom salientar que o treino de uma gestante deve ser individualizado, acompanhado em conjunto com o médico e por um por educador físico formado e com experiência e trabalho com gestantes, e sempre estar atentos a qualquer sinal de desconforto.
“O foco do treino para gestante é estritamente saúde – e não perda de peso ou deixar o corpo esteticamente melhor – e a responsabilidade desta nova vida que está se gerando, obrigatoriamente envolverá, supervisão médica, nutrição e exercício físico supervisionado”, finaliza Giulliano Esperança.
Fonte:



Artigo  Sobre Musculação na gravidez
Resumo
A prática de atividades físicas por mulheres grávidas sempre se constituiu em um assunto bastante divergente. Historicamente, muitas dúvidas e questões foram levantadas sobre o tema, já que as gestantes apresentavam preocupações quanto a ocorrência de nascimentos prematuros, receios de abortos, baixo desenvolvimento do feto, lesões musculoesqueléticas, entre outras, em função da prática de exercícios. Hoje em dia, sabe-se que estas preocupações não devem existir em uma gestação sadia, pois pesquisas recentes demonstraram que a participação regular de grávidas em um programa de atividades físicas pode melhorar o condicionamento fisiológico das mães, restringir o ganho de peso sem comprometer o desenvolvimento do feto e ainda facilitar a recuperação pós-parto (Artal, Clapp e Vigil, 2000). O presente artigo dará ênfase sobre o tema "Musculação na gravidez". Nosso objetivo principal será apresentar, através de uma revisão de literatura, considerações levantadas a respeito da prática da musculação durante a gestação, com enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde da gestante e no crescimento fetal.
Palavras chave: atividade física; musculação; gravidez.
Revista virtual EFArtigos - Natal/RN - volume 02 - número 07 - agosto - 2004
Allan José Silva da Costa *


Introdução

A prática de atividades físicas por mulheres grávidas sempre se constituiu em um assunto bastante divergente. Historicamente, muitas dúvidas e questões foram levantadas sobre o tema, já que as gestantes apresentavam preocupações quanto a ocorrência de nascimentos prematuros, receios de abortos, baixo desenvolvimento do feto, lesões musculoesqueléticas, entre outras, em função da prática de exercícios. Hoje em dia, sabe-se que estas preocupações não devem existir em uma gestação sadia, pois pesquisas recentes demonstraram que a participação regular de grávidas em um programa de atividades físicas pode melhorar o condicionamento fisiológico das mães, restringir o ganho de peso sem comprometer o desenvolvimento do feto e ainda facilitar a recuperação pós-parto (Artal, Clapp e Vigil, 2000).
Mesmo sabendo dos benefícios que a prática regular de atividades físicas pode trazer à mulher grávida, alguns cuidados devem ser adotados durante a prescrição dos exercícios no sentido de promover uma completa adequação as condições específicas apresentadas pela gestante. Neste contexto, alguns importantes fatores devem ser considerados. São eles: segurança, meio ambiente e tipo de exercício.
Em relação a segurança, Foss e Keteyian (2000) apontam algumas importantes recomendações que devem ser adotadas. A primeira delas afirma que os exercícios nas posições supina (barriga para cima) e pronada (barriga para baixo) devem ser evitados após o primeiro trimestre de gravidez, pois tais posições estão associadas com uma possível redução no débito cardíaco na maioria das mulheres. Atividades que resultem em riscos de perda de equilíbrio, traumatismo abdominal e fadiga física (exaustão completa) também não são recomendadas. Já em referência ao meio ambiente, Artal, Clapp e Vigil (2000) destacam a importância de praticar atividades em ambientes que apresentem temperatura moderada, pois assim evita-se o estresse físico e a perda excessiva de líquidos corporais. Neste sentido, as mulheres grávidas que se exercitam devem garantir uma boa dissipação de calor por meio de hidratação adequada e de vestimentas caracterizadas por roupas leves (Foss e Keteyian, 2000).
O tipo de atividade física talvez seja o fator mais importante a ser considerado na prescrição de exercícios para gestantes. A escolha da atividade deve ser precedida por uma avaliação médica, para que somente assim haja a segurança correta. Após a aprovação do médico especializado, a mulher grávida deve ingressar em atividades que lhe garantam prazer e bem estar, assim como também em atividades que apresentem baixo risco. Segundo Matsudo e Matsudo (2000), as atividades físicas para gestantes podem ser classificadas em três tipos: atividades de baixo risco, atividades de médio risco e atividades desfavoráveis. O primeiro tipo refere-se aos exercícios mais convenientes e benéficos para a gestante, pois comportam pequenos riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Incluem-se neste grupo a caminhada, ciclismo em bicicleta ergométrica, a natação e a hidroginástica leve. As atividades de médio risco são aquelas que podem ser praticadas pela mulher grávida, porém quando tomadas certas precauções; ginástica aeróbia, musculação e os esportes de raquete (tênis, squash) estão incluídos neste grupo. Por fim, temos as atividades desfavoráveis, que são totalmente contra indicadas para todas as mulheres em gestação. Neste grupo estão as atividades de esportes de contato físico ou de grande probabilidade de trauma, entre as quais podemos destacar o voleibol, basquetebol, esqui aquático, ginástica de alto impacto e hipismo (Matsudo, 2004).
O presente trabalho dará ênfase sobre uma das atividades citadas anteriormente: a musculação. Nosso objetivo principal será apresentar, através de uma revisão de literatura, considerações levantadas a respeito da prática da musculação durante a gestação, com enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde da gestante e no crescimento fetal.
Para que o objetivo geral acima citado seja atingido, alguns objetivos específicos foram delimitados. São eles: apresentar as principais adaptações fisiológicas em repouso que ocorrem com a gravidez, verificar as prescrições de cargas corretas para o trabalho de musculação com gestantes, analisar as contra indicações da musculação durante a gravidez e apresentar os principais benefícios biológicos e psicológicos que podem resultar da prática de musculação para mulheres grávidas.
Ao atingir os objetivos acima propostos, acreditamos estar dando contribuições significativas para a disseminação do conhecimento metodológico a respeito do tema "Musculação na gravidez", visto que constatamos existir um número reduzido de pesquisas científicas na área. Estas contribuições representam, então, a principal justificativa para a realização de um trabalho acadêmico com a presente temática.
Assim sendo, iniciaremos a seguir nossa explanação abordando a análise conceitual do estado de gravidez, enfatizando primariamente as principais adaptações fisiológicas que resultam deste estado físico da mulher.
1. Análise conceitual de gravidez
A gravidez consiste em um fenômeno biológico que compreende todo o período de gestação da mulher, o qual se inicia no ato da fecundação do óvulo e se encerra nove meses depois, através do processo de parturição.
Normalmente, a gravidez é dividida em 3 períodos. O primeiro deles compreende os três meses iniciais de gestação, sendo caracterizado por uma verdadeira "revolução hormonal" no organismo da mulher, o que leva à ocorrência de enjôos, sonolência, tontura e humor oscilante. Segundo Guyton (1988), este período também é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento do bebê, pois é onde se desenvolvem as estruturas básicas de todos os órgãos fetais. Por este motivo, uma dieta balanceada que atenda as quatro leis nutricionais (quantidade, qualidade, harmonia e adequação biológica), aliada a hidratação adequada e ao descanso assumem papel fundamental na vida da gestante e do feto em crescimento. O segundo e terceiro períodos - 3 a 6 meses e 6 a 9 meses, respectivamente - representam o espaço de tempo caracterizado pelas modificações significativas no corpo da mulher. De acordo com Artal, Clapp e Vigil (2000), ocorre ganho de massa corporal localizada na região do abdômen e da pelve, o que faz alterar a postura e o centro de gravidade da gestante. Assim, atividades que necessitem do equilíbrio e da agilidade podem se tornar mais difíceis devido a mudança de distribuição de massa corporal. Nestes períodos a mulher se sentirá mais disposta e poderá seguir seu programa de exercícios físicos até o fim da gravidez, desde que respeite seus limites e a prática lhe esteja sendo prazerosa.
Durante a gestação inúmeras adaptações fisiológicas e anatômicas são induzidas pelo fenômeno da gravidez, e devem ser levadas em conta durante o planejamento e prescrição das atividades físicas. Segundo Foss e Keteyian (2000), estas adaptações incluem modificações cardiovasculares, respiratórias, termorreguladoras, metabólicas hormonais e bioquímicas.
Dentre as alterações metabólicas, podemos destacar como importante para o exercício físico o aumento do metabolismo em cerca de 5% a 10% que ocorre na grávida em repouso, sendo que grande parte deste aumento é derivada da maior necessidade nutricional para o correto desenvolvimento do feto. Portanto, ao programar atividades físicas, o profissional deverá considerar os efeitos metabólicos da prática, principalmente em relação aos níveis de glicose sanguínea, pois se sabe que em exercícios extenuantes e prolongados a gestante pode sofrer hipoglicemia mais rapidamente, e esta resposta hipoglicêmica observada principalmente no terceiro trimestre de gravidez pode levar a efeitos potencialmente adversos ao feto (Matsudo e Matsudo, 2000). Esta é uma das causas que levam à recomendação geral de exercícios leves e moderados no período de gestação.
Outra justificativa para a prescrição de exercícios de baixa intensidade refere-se as adaptações cardiovasculares que resultam da gravidez. Estas adaptações incluem o aumento da freqüência cardíaca de repouso e do volume de ejeção, levando como conseqüência o aumento no fluxo sanguíneo em direção ao útero e ao feto. Em atividades de intensidade muito elevada, ocorre redistribuição seletiva de sangue aos músculos funcionalmente mais utilizados, com redução aos órgãos esplâncnicos, ao útero e ao feto. Esta redução do fluxo sanguíneo em direção ao feto ocasionada pela atividade física praticada de forma excessivamente intensa, pode chegar a produzir hipóxia ou asfixia fetal (idem).
Assim sendo, podemos perceber ser de fundamental importância para o profissional de Educação Física o conhecimento a respeito de todas as adaptações fisiológicas e anatômicas que resultam da gravidez, pois são estas modificações orgânicas que delimitarão as características que o exercício deve apresentar ao ser prescrito.
Abaixo estão representadas resumidamente as principais alterações fisiológicas em repouso que se manifestam na mulher grávida.
Cardiovasculares
• Aumento no débito cardíaco de repouso de até 50 %• Aumento no volume sanguíneo circulante• Aumento no tamanho diastólico terminal do ventrículo esquerdo• Aumento na freqüência cardíaca de repouso e no volume de ejeção• Aumento no fluxo sanguíneo em direção ao útero
Pulmonares
• Aumento na ventilação-minuto acarretando uma ligeira queda na PCO2 arterial• Aumento no volume corrente
Outras
• Aumento no VO2 em repouso, aproximando-se no terceiro trimestre de 30% acima dos valores das mulheres que não estão grávidas• Aumento nos hormônios estrogênios e relaxina• Aumento no peso corporal total de 10-14 kg• Aumento no dispêndido energético em repouso em aproximadamente 150 kcal/dia durante o primeiro trimestre e de aproximadamente 350 kcal/dia durante o segundo e terceiro trimestres.
Quadro 01 - alterações fisiológicas em repouso que se manifestam na mulher grávida(adaptado de Foss e Keteyian, 2000)
2. Prescrições do trabalho de musculação na gravidez
A musculação pode ser definida como sendo a utilização de exercícios contra resistência objetivando atuar nos ambientes competitivo, profilático, terapêutico, recreativo, estético e de preparação física (Bittencourt, 1986). Segundo Santarém (2000b), o trabalho de musculação pode ser realizado através de dois tipos de sobrecarga: tensional e metabólica. A sobrecarga tensional representa o grau de tensão que ocorre nos músculos durante a contração, e do ponto de vista prático é dada pela carga de trabalho; quanto maior for a carga, maior será a sobrecarga tensional. Já a sobrecarga metabólica representa a solicitação acentuada dos processos de produção de energia, principalmente a partir da glicólise anaeróbia. Do ponto de vista prático é dada pelo alto número de repetições e pelo intervalo curto entre as séries.
O trabalho de musculação na gravidez talvez se constitua no assunto de maior controvérsia dentro da área de atividades físicas para grupos especiais, já que o número de pesquisas científicas publicadas ainda é muito pequeno. Batista et al. (2003), por exemplo, indicam a musculação como uma atividade não recomendada para gestantes, ao ponto que Artal, Clapp e Vigil (2000) e Matsudo (2004) apontam esta atividade física como sendo de médio risco, porém podendo ser praticada desde que sejam adotadas certas precauções.
Em relação aos efeitos da prática de musculação sobre a gestante, as controvérsias continuam existindo. Batista et al. (2003) indicam a existência de riscos tais como lesões ósteo-musculares, diminuição do fluxo sanguíneo à placenta e conseqüentemente ao feto, aumento excessivo da temperatura corporal, entre outros. Por outro lado, Matsudo e Matsudo (2000) afirmam que a musculação proporciona fortalecimento muscular à grávida, deixando-a mais hábil para tolerar o seu peso corporal, realizar as atividades do dia-dia, melhorar a postura e evitar uma das principais queixas da gravidez: a lombalgia.
Após uma extensa revisão bibliográfica, acreditamos que o trabalho de musculação para gestantes pode sim ser realizado, porém somente quando é utilizado com objetivos recreativos, ou seja, quando representa uma forma de lazer através do exercício com pesos (Bittencourt, 1986). A prática de atividades resistidas que visa o aperfeiçoamento da preparação física desportiva e da capacidade competitiva deve ser desencorajada entre as gestantes, já que a gravidez não é o momento apropriado para competições sérias de alto nível de rendimento.
Assim sendo, a prescrição dos exercícios de musculação para mulheres grávidas, segundo Matsudo e Matsudo (2000), deve privilegiar o treinamento com número de repetições em torno de 10, com estimulação de 10-15 grupos musculares, duas vezes por semana. A recuperação das fontes energéticas entre cada exercício deve ser completa e a intensidade das cargas deve ser bastante moderada; algo em torno de 1,5 a 2,5 Kg.
Uma forma bastante simples e correta de controlar a intensidade das cargas é através da escala de percepção de esforço subjetivo proposta por Borg (1998). No trabalho de musculação com gestantes, os valores devem variar entre 9 e 11 nesta escala, o que corresponde a atividades com estímulos de carga muito leves e leves, respectivamente (ver quadro 02).
Tradicionalmente, a escala de Borg vem sendo utilizada somente para a avaliação e controle da intensidade em exercícios de características aeróbias. Porém, não existe nada na literatura pesquisada que impeça tal recurso de também ser utilizado em atividades de força muscular, tais como os exercícios resistidos característicos da musculação, daí a justificativa para a sua utilização em trabalhos com gestantes.
A seguir, a escala de Borg está representada no quadro 02 para que haja melhor entendimento sobre o assunto em discussão.
06
07 Extremamente leve
08
09 Muito leve
10
11 Leve
12
13 Moderadamente forte
14
15 Forte
16
17 Muito forte
18
19 Extremamente forte
20
Quadro 02 - escala de percepção de esforço subjetivo(adaptado de Borg, 1998)
Quanto a respiração, o melhor método na prática da musculação para gestantes é o método continuado, onde a praticante executa o movimento sem se preocupar com os momentos de inspiração e expiração; ela respira normalmente como se estivesse fazendo uma atividade rotineira do dia-dia. Já a "Manobra de Valsalva" (apnéia respiratória) não deve ser realizada pela grávida durante a execução dos exercícios.
3. Situações que contra-indicam a prática da musculação na gravidez
No trabalho de musculação existem algumas situações específicas que devem ser evitadas quando os exercícios são realizados por uma mulher grávida, sob pena de colocar a mesma em riscos potencialmente prejudiciais. Estas situações contra-indicam a prática da musculação na gestação, e por este motivo devem ser estudadas detalhadamente pelos profissionais de Educação Física que trabalham na área.
A primeira situação refere-se aos tipos de respiração durante a execução dos exercícios de musculação. Neste contexto, as respirações do tipo bloqueada e combinada não devem em hipótese alguma ser aplicadas no trabalho com gestantes. O primeiro tipo é aquele em que a praticante, antes de iniciar o movimento, inspira, realiza os movimentos concêntrico e excêntrico, e só depois expira o ar, ou seja, ela bloqueia a circulação de oxigênio durante toda a execução do movimento; já a respiração combinada é aquela em que a praticante, antes de iniciar o movimento, inspira, realiza o movimento concêntrico e expira durante a realização do movimento excêntrico. Tanto uma quanto a outra envolvem a chamada "Manobra de Valsalva", a qual provoca aumento do percentual isométrico da atividade, o que conduz a uma elevação da resistência periférica na passagem sanguínea, fazendo com que a pressão arterial apresente-se mais alta, tendo como conseqüência uma solicitação cardíaca maior e uma elevação da freqüência cardíaca. Em outras palavras, os tipos de respiração anteriormente descritos provocam sobrecarga ao coração e problemas de circulação sanguínea, principalmente no que se refere a obstrução do retorno venoso, sendo, portanto, não recomendadas para a prática com gestantes, já que estas devem apresentar uma circulação sanguínea estável para proporcionar um fluxo de sangue adequado ao feto em desenvolvimento.
Outra situação que contra-indica a musculação na gravidez é a aplicação de altas sobrecargas tensionais, representadas pelas cargas bastante elevadas. Nesta situação a praticante corre o risco de ser levada à fadiga e à exaustão, podendo, a partir daí, ser acometida por lesões musculoesqueléticas, aumento excessivo da temperatura corporal, diminuição do fluxo sanguíneo à placenta e, conseqüentemente, ao feto, pois o sangue é redistribuído em direção a musculatura funcional que está sendo mais requisitada no momento.
Uma terceira situação que podemos apontar como contra-indicante da musculação na gravidez é a aplicação de exercícios em posições supinada (barriga para cima) e pronada (barriga para baixo) após o primeiro trimestre de gestação (Artal, Clapp e Vigil, 2000). Esta situação é contra-indicada porque tais posições estão relacionadas com uma redução no débito cardíaco e possível obstrução do retorno venoso (Foss e Keteyian, 2000), dificultando a circulação sanguínea. Deste modo, exercícios como o supino reto com pés apoiados no chão, crucifixo com pés apoiados no chão, leg press, entre outros, não são recomendados. Além desta possível dificuldade provocada ao sistema circulatório, existem também os riscos de acidentes que podem ocorrer devido ao fato dos implementos (halteres, barras etc) estarem sendo utilizados próximos a região abdominal, podendo gerar algum tipo de traumatismo sobre a mesma.
Além das situações práticas do dia-dia, existem também algumas situações de saúde que contra-indicam a prática da musculação na gravidez. Baseados em Artal, Wiswell, Drinkwater e Jones (1991), podemos dividir estas situações de contra indicações em dois tipos: absolutas e relativas.
As situações de saúde que contra-indicam de forma absoluta os exercícios de musculação, e outras atividades físicas, na gestação incluem risco de parto prematuro, suspeita de estresse fetal, gestação múltipla, doenças miocárdicas, entre outras. Já as situações de contra-indicação relativa incluem falta de controle pré-natal, diabetes mellitus, obesidade excessiva ou baixo peso extremo, entre outras.
A seguir estão resumidas as principais situações de saúde que representam contra-indicações absolutas e relativas para a prática da musculação e de outras atividades físicas durante a gravidez.
Situações de saúde: contra-indicações absolutas
• Doenças miocárdicas• Suspeita de estresse fetal• Insuficiência cardíaca congestiva• Enfermidade hipertensiva grave• Enfermidade cardíaca reumática• Macrossomia• Tromboflebite• Retardo de crescimento intra-uterino• Embolismo pulmonar recente• Gestação múltipla• Enfermidade infecciosa aguda• Risco de parto prematuro
Situações de saúde: contra-indicações relativas
• Falta de controle pré-natal• Hipertensão arterial essencial• Diabetes mellitus• Obesidade excessiva ou peso baixo extremo• Anemia e outras alterações sanguíneas
Quadro 03 - situações de saúde que representam contra-indicações absolutas e relativas para a prática da musculação e de outras atividades físicas durante a gravidez(adaptado de Artal, Wiswell, Drinkwater e Jones, 1991)
Aliado a estas situações contra-indicantes, o American College of Obstetricians and Gynecology (2003) indica alguns sintomas que sinalizam para a interrupção imediata do programa de exercícios. Dentre estes sintomas podemos destacar a perda de líquido amniótico, dores no peito, contrações uterinas, hemorragia vaginal, enxaqueca, dispnéia, edema, dores nas costas ou na zona do púbis, fraqueza muscular, tontura e redução dos movimentos do feto.
4. Benefícios ocasionados pela musculação na gravidez
Assim como qualquer outra atividade física, a musculação proporciona diversos benefícios à gestante, porém desde que os exercícios sejam prescritos de forma individualizada e com cargas adequadas. De acordo com Matsudo e Matsudo (2000), tais benefícios podem ser divididos em dois tipos: biológicos e psicosociais. Os benefícios biológicos incluem as alterações físicas, fisiológicas, posturais, entre outras, sendo representados pelos principais efeitos orgânicos dos exercícios sobre a gestante (O'Toole, 2003). Já os benefícios psicosociais incluem as alterações de comportamento e sensações, exercendo influência direta sobre as atitudes da mulher grávida durante a gestação.
Dentre os benefícios biológicos, podemos destacar o que Santarém (2000a) denomina de independência funcional, ou seja, a capacidade de realizar as atividades desejadas do dia-dia sem colocar em risco a integridade física do organismo. Como sabemos, a gestante pode vir a apresentar algumas limitações em virtude das adaptações fisiológicas resultantes da gravidez. Entretanto, a prática adequada da musculação pode minimizar os efeitos destas possíveis limitações, pois proporciona o fortalecimento muscular e deixa a mulher grávida mais hábil para tolerar a sua massa corporal aumentada, alterar o centro de gravidade e realizar as atividades do dia-dia sem riscos nenhum para sua integridade e para a integridade do bebê, atingindo um bom nível de independência funcional e, conseqüentemente, uma boa qualidade de vida.
Outro benefício biológico importante refere-se a redução e prevenção da lombalgia, talvez a principal queixa da gravidez. Com o fortalecimento muscular proporcionado pela musculação, a grávida consegue minimizar os efeitos da hiperlordose que geralmente surge durante a gestação, em função da expansão do útero na cavidade abdominal e o conseqüente desvio do centro gravitacional (Batista et al, 2003). Nestes casos, os exercícios de musculação proporcionam alterações que contribuem significativamente para a adaptação a nova postura física, levando ao aprendizado de uma boa atitude postural.
Um terceiro benefício biológico que podemos analisar consiste na menor duração da fase ativa do parto. Neste contexto, Matsudo (2004) indica que os exercícios que promovem o fortalecimento, alongamento e relaxamento dos músculos que são utilizados no processo de parturição, podem facilitar a chegada do bebê, auxiliando a gestante no momento do parto e contribuindo para sua recuperação no período pós-parto, diminuindo assim os riscos de complicações obstétricas.
Em relação aos benefícios psicosociais, podemos citar como de fundamental importância o fato de que a musculação, quando praticada no ambiente recreativo, geralmente envolve atividades em grupo, onde as integrantes apresentam idéias e sentimentos bastante semelhantes. Isto faz com que a gestante apresente uma diminuição das sensações de isolamento social e de estresse, o que, conseqüentemente, também diminui os riscos de depressão durante a gravidez.
Mais um benefício no contexto psicosocial refere-se ao aspecto estético proporcionado pela musculação. Sabe-se que a gravidez é um período onde ocorre ganho significativo de massa corporal e adiposidade materna, geralmente acompanhado de uma situação de flacidez muscular. Ao praticar a musculação, a gestante consegue obter o desenvolvimento da tonicidade e da mobilidade muscular, além também de conseguir atingir um menor ganho de massa corporal e adiposidade. Isto faz com que a mulher grávida apresente melhoria da auto-imagem e auto-estima, o que só faz aumentar sua sensação de bem estar.
Enfim, os benefícios são múltiplos e mais variados possíveis. Abaixo segue um pequeno quadro resumindo todos estes benefícios proporcionados pela musculação e demais atividades físicas, sejam eles biológicos ou psicosociais.
Benefícios biológicos
• Maior nível de independência funcional• Prevenção da lombalgia• Menor duração na fase ativa do parto• Menor ganho de massa corporal e adiposidade materna• Diminuição de complicações obstétricas• Melhoria da capacidade física• Diminuição da incidência de cesárea• Menor tempo de hospitalização• Menor risco de parto prematuro
Benefícios psicosociais
• Melhoria da auto-imagem• Melhoria da auto-estima• Melhoria da sensação de bem estar• Diminuição da sensação de isolamento social• Diminuição da ansiedade• Diminuição do estresse• Diminuição do risco de depressão
Quadro 04 - benefícios proporcionados pela musculação e demais atividades físicas(adaptado de Matsudo, 2004)
Conclusão
O objetivo principal de nosso estudo consistiu na realização, através da revisão bibliográfica, de uma análise a respeito da prática da musculação durante a gestação, com enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde da gestante e no crescimento fetal. Acreditamos que tal objetivo tenha sido atingido, do mesmo modo como também acreditamos que a realização do presente trabalho contribuiu de forma significativa para a consolidação do aprendizado científico sobre o tema "Musculação na gravidez".
Perante a literatura pesquisada, verificamos que a musculação não se constitui em uma das atividades físicas mais recomendadas pelos profissionais de saúde durante a gravidez, sendo classificada como uma prática de médio risco para a gestante. A hidroginástica, caminhada, natação e outras atividades de características predominantemente aeróbias, são as atividades priorizadas e normalmente recomendadas para mulheres grávidas. No entanto, verificamos também que a musculação, quando ambientada em um contexto recreativo e com prescrições adequadas de cargas, pode proporcionar importantes benefícios à gestante.
Deste modo, podemos concluir que a prática da musculação, quando prescrita adequadamente, não modifica a duração da gestação, não prejudica o desenvolvimento do feto e muito menos induz a ocorrência de abortos espontâneos, como muitas mulheres temem, o que só vem a ressaltar sua importância na manutenção da saúde materna e do bem estar do feto. De qualquer modo, devido ao número bastante limitado de pesquisas científicas publicadas na área, sugerimos que outros estudos sejam realizados com o objetivo de analisar de forma mais aprofundada os efeitos da atividade de musculação sobre a mulher em gestação.
Referências bibliográficas
1) AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGY. Exercise during pregnancy and the post partum period. Clin obst gynecol, 2003.
2) ARTAL, Raul., CLAPP, James F., VIGIL, Daniel V. Exercícios durante a gravidez: recomendações do American College of Sports Medicine. [on line] Disponível na Internet. URL: htpp://www.efartigos.hpg.com.br/otemas/artigo53.html . Acesso: 16 jul. 2004
3) ARTAL, R., WISWELL, R. A., DRINKWATER, B. L., JONES, W. E. R. Exercise guidelines for pregancy. In: ARTAL, R., DRINKWATER, B. L. Exercise in pregancy. Baltimore: Williams e Wilkins, 1991.
4) BATISTA, Daniele Costa. Et al. Atividade física e gestação: saúde da gestante não atleta e crescimento fetal. Revista brasileira de saúde materna e infantil, Recife, v. 3, n. 2, 2003.
5) BORG, Gunnar. Borg's perceived exertion and pain scales. Champaign: human kinetics, 1998.
6) FOSS, Merle L., KETEYIAN, Steven J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. 6 ed. Rio de janeiro: guanabara koogan, 2000.
7) GUYTON, Arthur C. Fisiologia humana. 6 ed. Rio de janeiro: guanabara koogan, 1998.
8) MATSUDO, Sandra Marcela Mahecha. Nutrição, atividade física e gestação. Anuário de nutrição esportiva, 23 ed, mar. 2004.
9) MATSUDO, V.K.R., MATSUDO, S.M.M. Atividade física e esportiva na gravidez. In: TEDESCO, J.J. A grávida. São Paulo: atheneu, 2000.
10) O'TOOLE, M. L. Physiologic aspects of exercise in pregnancy. Clin obst gynecol, 2003.
11) SANTARÉM, José Maria. Atualização em exercícios resistidos: exercícios com pesos e qualidade de vida. [on line] Disponível na Internet. URL: http://www.saudetotal.com/saude/musvida/pesos.htm . Acesso: 16 jul. 2004.
12) SANTARÉM, José Maria. Hipertrofia muscular: aptidão física, saúde e qualidade de vida. [on line] Disponível na Internet. URL: http://www.saudetotal.com/saude/hptrofiq.htm. Acesso: 16 jul. 2004.
Nota: * Acadêmico de Educação Física pela UFRN
Editor: Allan José Costa - Revista Virtual EFArtigos