terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Musculação na gravidez

Musculação para gestantes é um dos exercícios mais seguros

Gestantes que querem fazer treino de sobrecargas leves ? os exercícios com pesos, nome mais correto para musculação ? podem ficar tranquilas: como esse tipo de atividade é feito em ambiente controlado e com o auxílio de profissionais, ele pode ser uma das atividades mais seguras para a mulher grávida. Desde que, claro, seu médico a libere e acompanhe a evolução.



“A musculação, ao contrário do que prega o senso comum, não é necessariamente associada ao ganho de massa ou emagrecimento, mas pode servir para tonificar os músculos e ajudar na melhora da capacidade aeróbia”, explica Giulliano Esperança, personal trainer e wellness manager, que já montou e acompanhou de perto o treino de mais de seis atuais mamães no período de gestação.
“Lembrando que é um consenso que a intensidade de um exercício para gestante tem de ser obrigatoriamente de leve a moderado, e que primeiramente toda gestante deve comunicar o seu médico sobre o interesse na prática regular de exercício físico. Isso serve mesmo para aquelas que já são praticantes regulares de exercícios”, completa o especialista, que cita uma recomendação do Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (Acog, na sigla em inglês), que indicou que gestantes que apresentassem condições apropriadas, não deveriam se esquivar da prática regular de atividade física.
A grande ressalva, lembra Giulliano, é para atividades que envolvam prender a respiração, como acontece com a natação, por exemplo. “Em hipótese alguma a praticante deve realizar a chamada ‘manobra de Valsalva’, nome técnico para o ato de entrar em apneia, prendendo a respiração, pois isso pode levar ao aumento da pressão arterial e que impacta negativamente a condição da gestante”, alerta.
Ambiente controlado
A musculação é uma modalidade em que o fato de se ter um ambiente controlável, torna-a segura para a gestante. A sobrecarga deve sempre ser modulada para um estímulo aeróbio, diz Giulliano, ou seja, mesmo sendo um treinamento na sala de musculação, o estímulo muscular será sempre de baixa a media intensidade, que não visa à hipertrofia – aumento dos músculos –, mas à resistência.
Para a gestante, esse tipo de atividade física vai resultar em um aumento do bem-estar físico e mental e maior disposição matinal, por exemplo. “Além disso, as gestantes aumentam a chamada ‘consciência corporal’, fazendo-a ter maior noção dos seus limites físicos, dos seus movimentos e da relação do seu corpo com o espaço onde ela se movimenta”, explica Giulliano.
“Como o corpo e o centro de gravidade da gestante está em modificação, essa consciência corporal ajuda no equilíbrio – e evitar quedas é algo que toda grávida deve estar atenta – e impede que ela se machuque, pois os choques com móveis e outros objetos muitas vezes acontecem por essa falta de noção da extensão do próprio corpo”, completa.
Outro benefício claro é o fortalecimento da musculatura das costas, que com o aumento da barriga e do peso passa a ser mais exigida dia após dia. E toda essa movimentação também diminui os riscos de tromboses e problemas vasculares.
“E o conjunto disso tudo, até mesmo da capacidade aeróbia, vai resultar em um melhor preparo físico para o parto – um evento que é bastante intenso para o corpo, diga-se de passagem – e consequentemente se reflete em uma recuperação mais rápida”, afirma o profissional.
Exercícios também ajudam no controle de outras condições de saúde
Uma vantagem muito importante de uma rotina de exercícios físicos durante a gravidez é a redução do risco de diabetes gestacional (leia mais AQUI), que geralmente ocorre na fase tardia da gestação. Mesmo para gestantes que apresentam diabetes gestacional, o exercício pode contribuir para manter os níveis glicêmicos normais.
Mas é sempre bom salientar que o treino de uma gestante deve ser individualizado, acompanhado em conjunto com o médico e por um por educador físico formado e com experiência e trabalho com gestantes, e sempre estar atentos a qualquer sinal de desconforto.
“O foco do treino para gestante é estritamente saúde – e não perda de peso ou deixar o corpo esteticamente melhor – e a responsabilidade desta nova vida que está se gerando, obrigatoriamente envolverá, supervisão médica, nutrição e exercício físico supervisionado”, finaliza Giulliano Esperança.
Fonte:



Artigo  Sobre Musculação na gravidez
Resumo
A prática de atividades físicas por mulheres grávidas sempre se constituiu em um assunto bastante divergente. Historicamente, muitas dúvidas e questões foram levantadas sobre o tema, já que as gestantes apresentavam preocupações quanto a ocorrência de nascimentos prematuros, receios de abortos, baixo desenvolvimento do feto, lesões musculoesqueléticas, entre outras, em função da prática de exercícios. Hoje em dia, sabe-se que estas preocupações não devem existir em uma gestação sadia, pois pesquisas recentes demonstraram que a participação regular de grávidas em um programa de atividades físicas pode melhorar o condicionamento fisiológico das mães, restringir o ganho de peso sem comprometer o desenvolvimento do feto e ainda facilitar a recuperação pós-parto (Artal, Clapp e Vigil, 2000). O presente artigo dará ênfase sobre o tema "Musculação na gravidez". Nosso objetivo principal será apresentar, através de uma revisão de literatura, considerações levantadas a respeito da prática da musculação durante a gestação, com enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde da gestante e no crescimento fetal.
Palavras chave: atividade física; musculação; gravidez.
Revista virtual EFArtigos - Natal/RN - volume 02 - número 07 - agosto - 2004
Allan José Silva da Costa *


Introdução

A prática de atividades físicas por mulheres grávidas sempre se constituiu em um assunto bastante divergente. Historicamente, muitas dúvidas e questões foram levantadas sobre o tema, já que as gestantes apresentavam preocupações quanto a ocorrência de nascimentos prematuros, receios de abortos, baixo desenvolvimento do feto, lesões musculoesqueléticas, entre outras, em função da prática de exercícios. Hoje em dia, sabe-se que estas preocupações não devem existir em uma gestação sadia, pois pesquisas recentes demonstraram que a participação regular de grávidas em um programa de atividades físicas pode melhorar o condicionamento fisiológico das mães, restringir o ganho de peso sem comprometer o desenvolvimento do feto e ainda facilitar a recuperação pós-parto (Artal, Clapp e Vigil, 2000).
Mesmo sabendo dos benefícios que a prática regular de atividades físicas pode trazer à mulher grávida, alguns cuidados devem ser adotados durante a prescrição dos exercícios no sentido de promover uma completa adequação as condições específicas apresentadas pela gestante. Neste contexto, alguns importantes fatores devem ser considerados. São eles: segurança, meio ambiente e tipo de exercício.
Em relação a segurança, Foss e Keteyian (2000) apontam algumas importantes recomendações que devem ser adotadas. A primeira delas afirma que os exercícios nas posições supina (barriga para cima) e pronada (barriga para baixo) devem ser evitados após o primeiro trimestre de gravidez, pois tais posições estão associadas com uma possível redução no débito cardíaco na maioria das mulheres. Atividades que resultem em riscos de perda de equilíbrio, traumatismo abdominal e fadiga física (exaustão completa) também não são recomendadas. Já em referência ao meio ambiente, Artal, Clapp e Vigil (2000) destacam a importância de praticar atividades em ambientes que apresentem temperatura moderada, pois assim evita-se o estresse físico e a perda excessiva de líquidos corporais. Neste sentido, as mulheres grávidas que se exercitam devem garantir uma boa dissipação de calor por meio de hidratação adequada e de vestimentas caracterizadas por roupas leves (Foss e Keteyian, 2000).
O tipo de atividade física talvez seja o fator mais importante a ser considerado na prescrição de exercícios para gestantes. A escolha da atividade deve ser precedida por uma avaliação médica, para que somente assim haja a segurança correta. Após a aprovação do médico especializado, a mulher grávida deve ingressar em atividades que lhe garantam prazer e bem estar, assim como também em atividades que apresentem baixo risco. Segundo Matsudo e Matsudo (2000), as atividades físicas para gestantes podem ser classificadas em três tipos: atividades de baixo risco, atividades de médio risco e atividades desfavoráveis. O primeiro tipo refere-se aos exercícios mais convenientes e benéficos para a gestante, pois comportam pequenos riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Incluem-se neste grupo a caminhada, ciclismo em bicicleta ergométrica, a natação e a hidroginástica leve. As atividades de médio risco são aquelas que podem ser praticadas pela mulher grávida, porém quando tomadas certas precauções; ginástica aeróbia, musculação e os esportes de raquete (tênis, squash) estão incluídos neste grupo. Por fim, temos as atividades desfavoráveis, que são totalmente contra indicadas para todas as mulheres em gestação. Neste grupo estão as atividades de esportes de contato físico ou de grande probabilidade de trauma, entre as quais podemos destacar o voleibol, basquetebol, esqui aquático, ginástica de alto impacto e hipismo (Matsudo, 2004).
O presente trabalho dará ênfase sobre uma das atividades citadas anteriormente: a musculação. Nosso objetivo principal será apresentar, através de uma revisão de literatura, considerações levantadas a respeito da prática da musculação durante a gestação, com enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde da gestante e no crescimento fetal.
Para que o objetivo geral acima citado seja atingido, alguns objetivos específicos foram delimitados. São eles: apresentar as principais adaptações fisiológicas em repouso que ocorrem com a gravidez, verificar as prescrições de cargas corretas para o trabalho de musculação com gestantes, analisar as contra indicações da musculação durante a gravidez e apresentar os principais benefícios biológicos e psicológicos que podem resultar da prática de musculação para mulheres grávidas.
Ao atingir os objetivos acima propostos, acreditamos estar dando contribuições significativas para a disseminação do conhecimento metodológico a respeito do tema "Musculação na gravidez", visto que constatamos existir um número reduzido de pesquisas científicas na área. Estas contribuições representam, então, a principal justificativa para a realização de um trabalho acadêmico com a presente temática.
Assim sendo, iniciaremos a seguir nossa explanação abordando a análise conceitual do estado de gravidez, enfatizando primariamente as principais adaptações fisiológicas que resultam deste estado físico da mulher.
1. Análise conceitual de gravidez
A gravidez consiste em um fenômeno biológico que compreende todo o período de gestação da mulher, o qual se inicia no ato da fecundação do óvulo e se encerra nove meses depois, através do processo de parturição.
Normalmente, a gravidez é dividida em 3 períodos. O primeiro deles compreende os três meses iniciais de gestação, sendo caracterizado por uma verdadeira "revolução hormonal" no organismo da mulher, o que leva à ocorrência de enjôos, sonolência, tontura e humor oscilante. Segundo Guyton (1988), este período também é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento do bebê, pois é onde se desenvolvem as estruturas básicas de todos os órgãos fetais. Por este motivo, uma dieta balanceada que atenda as quatro leis nutricionais (quantidade, qualidade, harmonia e adequação biológica), aliada a hidratação adequada e ao descanso assumem papel fundamental na vida da gestante e do feto em crescimento. O segundo e terceiro períodos - 3 a 6 meses e 6 a 9 meses, respectivamente - representam o espaço de tempo caracterizado pelas modificações significativas no corpo da mulher. De acordo com Artal, Clapp e Vigil (2000), ocorre ganho de massa corporal localizada na região do abdômen e da pelve, o que faz alterar a postura e o centro de gravidade da gestante. Assim, atividades que necessitem do equilíbrio e da agilidade podem se tornar mais difíceis devido a mudança de distribuição de massa corporal. Nestes períodos a mulher se sentirá mais disposta e poderá seguir seu programa de exercícios físicos até o fim da gravidez, desde que respeite seus limites e a prática lhe esteja sendo prazerosa.
Durante a gestação inúmeras adaptações fisiológicas e anatômicas são induzidas pelo fenômeno da gravidez, e devem ser levadas em conta durante o planejamento e prescrição das atividades físicas. Segundo Foss e Keteyian (2000), estas adaptações incluem modificações cardiovasculares, respiratórias, termorreguladoras, metabólicas hormonais e bioquímicas.
Dentre as alterações metabólicas, podemos destacar como importante para o exercício físico o aumento do metabolismo em cerca de 5% a 10% que ocorre na grávida em repouso, sendo que grande parte deste aumento é derivada da maior necessidade nutricional para o correto desenvolvimento do feto. Portanto, ao programar atividades físicas, o profissional deverá considerar os efeitos metabólicos da prática, principalmente em relação aos níveis de glicose sanguínea, pois se sabe que em exercícios extenuantes e prolongados a gestante pode sofrer hipoglicemia mais rapidamente, e esta resposta hipoglicêmica observada principalmente no terceiro trimestre de gravidez pode levar a efeitos potencialmente adversos ao feto (Matsudo e Matsudo, 2000). Esta é uma das causas que levam à recomendação geral de exercícios leves e moderados no período de gestação.
Outra justificativa para a prescrição de exercícios de baixa intensidade refere-se as adaptações cardiovasculares que resultam da gravidez. Estas adaptações incluem o aumento da freqüência cardíaca de repouso e do volume de ejeção, levando como conseqüência o aumento no fluxo sanguíneo em direção ao útero e ao feto. Em atividades de intensidade muito elevada, ocorre redistribuição seletiva de sangue aos músculos funcionalmente mais utilizados, com redução aos órgãos esplâncnicos, ao útero e ao feto. Esta redução do fluxo sanguíneo em direção ao feto ocasionada pela atividade física praticada de forma excessivamente intensa, pode chegar a produzir hipóxia ou asfixia fetal (idem).
Assim sendo, podemos perceber ser de fundamental importância para o profissional de Educação Física o conhecimento a respeito de todas as adaptações fisiológicas e anatômicas que resultam da gravidez, pois são estas modificações orgânicas que delimitarão as características que o exercício deve apresentar ao ser prescrito.
Abaixo estão representadas resumidamente as principais alterações fisiológicas em repouso que se manifestam na mulher grávida.
Cardiovasculares
• Aumento no débito cardíaco de repouso de até 50 %• Aumento no volume sanguíneo circulante• Aumento no tamanho diastólico terminal do ventrículo esquerdo• Aumento na freqüência cardíaca de repouso e no volume de ejeção• Aumento no fluxo sanguíneo em direção ao útero
Pulmonares
• Aumento na ventilação-minuto acarretando uma ligeira queda na PCO2 arterial• Aumento no volume corrente
Outras
• Aumento no VO2 em repouso, aproximando-se no terceiro trimestre de 30% acima dos valores das mulheres que não estão grávidas• Aumento nos hormônios estrogênios e relaxina• Aumento no peso corporal total de 10-14 kg• Aumento no dispêndido energético em repouso em aproximadamente 150 kcal/dia durante o primeiro trimestre e de aproximadamente 350 kcal/dia durante o segundo e terceiro trimestres.
Quadro 01 - alterações fisiológicas em repouso que se manifestam na mulher grávida(adaptado de Foss e Keteyian, 2000)
2. Prescrições do trabalho de musculação na gravidez
A musculação pode ser definida como sendo a utilização de exercícios contra resistência objetivando atuar nos ambientes competitivo, profilático, terapêutico, recreativo, estético e de preparação física (Bittencourt, 1986). Segundo Santarém (2000b), o trabalho de musculação pode ser realizado através de dois tipos de sobrecarga: tensional e metabólica. A sobrecarga tensional representa o grau de tensão que ocorre nos músculos durante a contração, e do ponto de vista prático é dada pela carga de trabalho; quanto maior for a carga, maior será a sobrecarga tensional. Já a sobrecarga metabólica representa a solicitação acentuada dos processos de produção de energia, principalmente a partir da glicólise anaeróbia. Do ponto de vista prático é dada pelo alto número de repetições e pelo intervalo curto entre as séries.
O trabalho de musculação na gravidez talvez se constitua no assunto de maior controvérsia dentro da área de atividades físicas para grupos especiais, já que o número de pesquisas científicas publicadas ainda é muito pequeno. Batista et al. (2003), por exemplo, indicam a musculação como uma atividade não recomendada para gestantes, ao ponto que Artal, Clapp e Vigil (2000) e Matsudo (2004) apontam esta atividade física como sendo de médio risco, porém podendo ser praticada desde que sejam adotadas certas precauções.
Em relação aos efeitos da prática de musculação sobre a gestante, as controvérsias continuam existindo. Batista et al. (2003) indicam a existência de riscos tais como lesões ósteo-musculares, diminuição do fluxo sanguíneo à placenta e conseqüentemente ao feto, aumento excessivo da temperatura corporal, entre outros. Por outro lado, Matsudo e Matsudo (2000) afirmam que a musculação proporciona fortalecimento muscular à grávida, deixando-a mais hábil para tolerar o seu peso corporal, realizar as atividades do dia-dia, melhorar a postura e evitar uma das principais queixas da gravidez: a lombalgia.
Após uma extensa revisão bibliográfica, acreditamos que o trabalho de musculação para gestantes pode sim ser realizado, porém somente quando é utilizado com objetivos recreativos, ou seja, quando representa uma forma de lazer através do exercício com pesos (Bittencourt, 1986). A prática de atividades resistidas que visa o aperfeiçoamento da preparação física desportiva e da capacidade competitiva deve ser desencorajada entre as gestantes, já que a gravidez não é o momento apropriado para competições sérias de alto nível de rendimento.
Assim sendo, a prescrição dos exercícios de musculação para mulheres grávidas, segundo Matsudo e Matsudo (2000), deve privilegiar o treinamento com número de repetições em torno de 10, com estimulação de 10-15 grupos musculares, duas vezes por semana. A recuperação das fontes energéticas entre cada exercício deve ser completa e a intensidade das cargas deve ser bastante moderada; algo em torno de 1,5 a 2,5 Kg.
Uma forma bastante simples e correta de controlar a intensidade das cargas é através da escala de percepção de esforço subjetivo proposta por Borg (1998). No trabalho de musculação com gestantes, os valores devem variar entre 9 e 11 nesta escala, o que corresponde a atividades com estímulos de carga muito leves e leves, respectivamente (ver quadro 02).
Tradicionalmente, a escala de Borg vem sendo utilizada somente para a avaliação e controle da intensidade em exercícios de características aeróbias. Porém, não existe nada na literatura pesquisada que impeça tal recurso de também ser utilizado em atividades de força muscular, tais como os exercícios resistidos característicos da musculação, daí a justificativa para a sua utilização em trabalhos com gestantes.
A seguir, a escala de Borg está representada no quadro 02 para que haja melhor entendimento sobre o assunto em discussão.
06
07 Extremamente leve
08
09 Muito leve
10
11 Leve
12
13 Moderadamente forte
14
15 Forte
16
17 Muito forte
18
19 Extremamente forte
20
Quadro 02 - escala de percepção de esforço subjetivo(adaptado de Borg, 1998)
Quanto a respiração, o melhor método na prática da musculação para gestantes é o método continuado, onde a praticante executa o movimento sem se preocupar com os momentos de inspiração e expiração; ela respira normalmente como se estivesse fazendo uma atividade rotineira do dia-dia. Já a "Manobra de Valsalva" (apnéia respiratória) não deve ser realizada pela grávida durante a execução dos exercícios.
3. Situações que contra-indicam a prática da musculação na gravidez
No trabalho de musculação existem algumas situações específicas que devem ser evitadas quando os exercícios são realizados por uma mulher grávida, sob pena de colocar a mesma em riscos potencialmente prejudiciais. Estas situações contra-indicam a prática da musculação na gestação, e por este motivo devem ser estudadas detalhadamente pelos profissionais de Educação Física que trabalham na área.
A primeira situação refere-se aos tipos de respiração durante a execução dos exercícios de musculação. Neste contexto, as respirações do tipo bloqueada e combinada não devem em hipótese alguma ser aplicadas no trabalho com gestantes. O primeiro tipo é aquele em que a praticante, antes de iniciar o movimento, inspira, realiza os movimentos concêntrico e excêntrico, e só depois expira o ar, ou seja, ela bloqueia a circulação de oxigênio durante toda a execução do movimento; já a respiração combinada é aquela em que a praticante, antes de iniciar o movimento, inspira, realiza o movimento concêntrico e expira durante a realização do movimento excêntrico. Tanto uma quanto a outra envolvem a chamada "Manobra de Valsalva", a qual provoca aumento do percentual isométrico da atividade, o que conduz a uma elevação da resistência periférica na passagem sanguínea, fazendo com que a pressão arterial apresente-se mais alta, tendo como conseqüência uma solicitação cardíaca maior e uma elevação da freqüência cardíaca. Em outras palavras, os tipos de respiração anteriormente descritos provocam sobrecarga ao coração e problemas de circulação sanguínea, principalmente no que se refere a obstrução do retorno venoso, sendo, portanto, não recomendadas para a prática com gestantes, já que estas devem apresentar uma circulação sanguínea estável para proporcionar um fluxo de sangue adequado ao feto em desenvolvimento.
Outra situação que contra-indica a musculação na gravidez é a aplicação de altas sobrecargas tensionais, representadas pelas cargas bastante elevadas. Nesta situação a praticante corre o risco de ser levada à fadiga e à exaustão, podendo, a partir daí, ser acometida por lesões musculoesqueléticas, aumento excessivo da temperatura corporal, diminuição do fluxo sanguíneo à placenta e, conseqüentemente, ao feto, pois o sangue é redistribuído em direção a musculatura funcional que está sendo mais requisitada no momento.
Uma terceira situação que podemos apontar como contra-indicante da musculação na gravidez é a aplicação de exercícios em posições supinada (barriga para cima) e pronada (barriga para baixo) após o primeiro trimestre de gestação (Artal, Clapp e Vigil, 2000). Esta situação é contra-indicada porque tais posições estão relacionadas com uma redução no débito cardíaco e possível obstrução do retorno venoso (Foss e Keteyian, 2000), dificultando a circulação sanguínea. Deste modo, exercícios como o supino reto com pés apoiados no chão, crucifixo com pés apoiados no chão, leg press, entre outros, não são recomendados. Além desta possível dificuldade provocada ao sistema circulatório, existem também os riscos de acidentes que podem ocorrer devido ao fato dos implementos (halteres, barras etc) estarem sendo utilizados próximos a região abdominal, podendo gerar algum tipo de traumatismo sobre a mesma.
Além das situações práticas do dia-dia, existem também algumas situações de saúde que contra-indicam a prática da musculação na gravidez. Baseados em Artal, Wiswell, Drinkwater e Jones (1991), podemos dividir estas situações de contra indicações em dois tipos: absolutas e relativas.
As situações de saúde que contra-indicam de forma absoluta os exercícios de musculação, e outras atividades físicas, na gestação incluem risco de parto prematuro, suspeita de estresse fetal, gestação múltipla, doenças miocárdicas, entre outras. Já as situações de contra-indicação relativa incluem falta de controle pré-natal, diabetes mellitus, obesidade excessiva ou baixo peso extremo, entre outras.
A seguir estão resumidas as principais situações de saúde que representam contra-indicações absolutas e relativas para a prática da musculação e de outras atividades físicas durante a gravidez.
Situações de saúde: contra-indicações absolutas
• Doenças miocárdicas• Suspeita de estresse fetal• Insuficiência cardíaca congestiva• Enfermidade hipertensiva grave• Enfermidade cardíaca reumática• Macrossomia• Tromboflebite• Retardo de crescimento intra-uterino• Embolismo pulmonar recente• Gestação múltipla• Enfermidade infecciosa aguda• Risco de parto prematuro
Situações de saúde: contra-indicações relativas
• Falta de controle pré-natal• Hipertensão arterial essencial• Diabetes mellitus• Obesidade excessiva ou peso baixo extremo• Anemia e outras alterações sanguíneas
Quadro 03 - situações de saúde que representam contra-indicações absolutas e relativas para a prática da musculação e de outras atividades físicas durante a gravidez(adaptado de Artal, Wiswell, Drinkwater e Jones, 1991)
Aliado a estas situações contra-indicantes, o American College of Obstetricians and Gynecology (2003) indica alguns sintomas que sinalizam para a interrupção imediata do programa de exercícios. Dentre estes sintomas podemos destacar a perda de líquido amniótico, dores no peito, contrações uterinas, hemorragia vaginal, enxaqueca, dispnéia, edema, dores nas costas ou na zona do púbis, fraqueza muscular, tontura e redução dos movimentos do feto.
4. Benefícios ocasionados pela musculação na gravidez
Assim como qualquer outra atividade física, a musculação proporciona diversos benefícios à gestante, porém desde que os exercícios sejam prescritos de forma individualizada e com cargas adequadas. De acordo com Matsudo e Matsudo (2000), tais benefícios podem ser divididos em dois tipos: biológicos e psicosociais. Os benefícios biológicos incluem as alterações físicas, fisiológicas, posturais, entre outras, sendo representados pelos principais efeitos orgânicos dos exercícios sobre a gestante (O'Toole, 2003). Já os benefícios psicosociais incluem as alterações de comportamento e sensações, exercendo influência direta sobre as atitudes da mulher grávida durante a gestação.
Dentre os benefícios biológicos, podemos destacar o que Santarém (2000a) denomina de independência funcional, ou seja, a capacidade de realizar as atividades desejadas do dia-dia sem colocar em risco a integridade física do organismo. Como sabemos, a gestante pode vir a apresentar algumas limitações em virtude das adaptações fisiológicas resultantes da gravidez. Entretanto, a prática adequada da musculação pode minimizar os efeitos destas possíveis limitações, pois proporciona o fortalecimento muscular e deixa a mulher grávida mais hábil para tolerar a sua massa corporal aumentada, alterar o centro de gravidade e realizar as atividades do dia-dia sem riscos nenhum para sua integridade e para a integridade do bebê, atingindo um bom nível de independência funcional e, conseqüentemente, uma boa qualidade de vida.
Outro benefício biológico importante refere-se a redução e prevenção da lombalgia, talvez a principal queixa da gravidez. Com o fortalecimento muscular proporcionado pela musculação, a grávida consegue minimizar os efeitos da hiperlordose que geralmente surge durante a gestação, em função da expansão do útero na cavidade abdominal e o conseqüente desvio do centro gravitacional (Batista et al, 2003). Nestes casos, os exercícios de musculação proporcionam alterações que contribuem significativamente para a adaptação a nova postura física, levando ao aprendizado de uma boa atitude postural.
Um terceiro benefício biológico que podemos analisar consiste na menor duração da fase ativa do parto. Neste contexto, Matsudo (2004) indica que os exercícios que promovem o fortalecimento, alongamento e relaxamento dos músculos que são utilizados no processo de parturição, podem facilitar a chegada do bebê, auxiliando a gestante no momento do parto e contribuindo para sua recuperação no período pós-parto, diminuindo assim os riscos de complicações obstétricas.
Em relação aos benefícios psicosociais, podemos citar como de fundamental importância o fato de que a musculação, quando praticada no ambiente recreativo, geralmente envolve atividades em grupo, onde as integrantes apresentam idéias e sentimentos bastante semelhantes. Isto faz com que a gestante apresente uma diminuição das sensações de isolamento social e de estresse, o que, conseqüentemente, também diminui os riscos de depressão durante a gravidez.
Mais um benefício no contexto psicosocial refere-se ao aspecto estético proporcionado pela musculação. Sabe-se que a gravidez é um período onde ocorre ganho significativo de massa corporal e adiposidade materna, geralmente acompanhado de uma situação de flacidez muscular. Ao praticar a musculação, a gestante consegue obter o desenvolvimento da tonicidade e da mobilidade muscular, além também de conseguir atingir um menor ganho de massa corporal e adiposidade. Isto faz com que a mulher grávida apresente melhoria da auto-imagem e auto-estima, o que só faz aumentar sua sensação de bem estar.
Enfim, os benefícios são múltiplos e mais variados possíveis. Abaixo segue um pequeno quadro resumindo todos estes benefícios proporcionados pela musculação e demais atividades físicas, sejam eles biológicos ou psicosociais.
Benefícios biológicos
• Maior nível de independência funcional• Prevenção da lombalgia• Menor duração na fase ativa do parto• Menor ganho de massa corporal e adiposidade materna• Diminuição de complicações obstétricas• Melhoria da capacidade física• Diminuição da incidência de cesárea• Menor tempo de hospitalização• Menor risco de parto prematuro
Benefícios psicosociais
• Melhoria da auto-imagem• Melhoria da auto-estima• Melhoria da sensação de bem estar• Diminuição da sensação de isolamento social• Diminuição da ansiedade• Diminuição do estresse• Diminuição do risco de depressão
Quadro 04 - benefícios proporcionados pela musculação e demais atividades físicas(adaptado de Matsudo, 2004)
Conclusão
O objetivo principal de nosso estudo consistiu na realização, através da revisão bibliográfica, de uma análise a respeito da prática da musculação durante a gestação, com enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde da gestante e no crescimento fetal. Acreditamos que tal objetivo tenha sido atingido, do mesmo modo como também acreditamos que a realização do presente trabalho contribuiu de forma significativa para a consolidação do aprendizado científico sobre o tema "Musculação na gravidez".
Perante a literatura pesquisada, verificamos que a musculação não se constitui em uma das atividades físicas mais recomendadas pelos profissionais de saúde durante a gravidez, sendo classificada como uma prática de médio risco para a gestante. A hidroginástica, caminhada, natação e outras atividades de características predominantemente aeróbias, são as atividades priorizadas e normalmente recomendadas para mulheres grávidas. No entanto, verificamos também que a musculação, quando ambientada em um contexto recreativo e com prescrições adequadas de cargas, pode proporcionar importantes benefícios à gestante.
Deste modo, podemos concluir que a prática da musculação, quando prescrita adequadamente, não modifica a duração da gestação, não prejudica o desenvolvimento do feto e muito menos induz a ocorrência de abortos espontâneos, como muitas mulheres temem, o que só vem a ressaltar sua importância na manutenção da saúde materna e do bem estar do feto. De qualquer modo, devido ao número bastante limitado de pesquisas científicas publicadas na área, sugerimos que outros estudos sejam realizados com o objetivo de analisar de forma mais aprofundada os efeitos da atividade de musculação sobre a mulher em gestação.
Referências bibliográficas
1) AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGY. Exercise during pregnancy and the post partum period. Clin obst gynecol, 2003.
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7) GUYTON, Arthur C. Fisiologia humana. 6 ed. Rio de janeiro: guanabara koogan, 1998.
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9) MATSUDO, V.K.R., MATSUDO, S.M.M. Atividade física e esportiva na gravidez. In: TEDESCO, J.J. A grávida. São Paulo: atheneu, 2000.
10) O'TOOLE, M. L. Physiologic aspects of exercise in pregnancy. Clin obst gynecol, 2003.
11) SANTARÉM, José Maria. Atualização em exercícios resistidos: exercícios com pesos e qualidade de vida. [on line] Disponível na Internet. URL: http://www.saudetotal.com/saude/musvida/pesos.htm . Acesso: 16 jul. 2004.
12) SANTARÉM, José Maria. Hipertrofia muscular: aptidão física, saúde e qualidade de vida. [on line] Disponível na Internet. URL: http://www.saudetotal.com/saude/hptrofiq.htm. Acesso: 16 jul. 2004.
Nota: * Acadêmico de Educação Física pela UFRN
Editor: Allan José Costa - Revista Virtual EFArtigos

domingo, 21 de novembro de 2010

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES











Adair Pereira Júnior*

Sidnéa Lopes Silva**





Resumo: Este trabalho tem como principal objetivo discutir acerca das potencialidades e limitações relacionadas a Educação a Distância. Objetivamos ainda, apresentar, brevemente, o contexto de Educação a distância e focalizar a importância do uso do computador nesta ‘modalidade’ de ensino. Para isto, utilizamos como referencial teórico Souza (2009), Pretto (2003), Barreto (2003) dentre outros autores, que tratam sobre: aspectos pedagógicos, o impacto tecnológico provocado principalmente pelo advento do computador e a expansão do ensino superior.



Palavras-chave: educação a distância, tecnologias, possibilidades, limitações.



Abstract: This work has like main goal discuss about the potentialities and limitations of the Distance Education. We still intent to show, soon, the context of Distance Education and spot the importance of computer using at this “modality” of teaching. For this, we used as teoric reference Souza (2009), Pretto (2003), Barreto (2003) and others authors, that deal about: pedagogic aspects, the technologic impact, caused principally by the computer advent and the expansion of the superior teaching.



Key-words: distance education, technologies, possibilities, limitations.



















Introdução



Vivemos numa sociedade notadamente marcada pela “Era da informação” ou “Era Tecnológica”, oriunda do pós-modernismo. Se antes, a modernidade preconizada pelo movimento iluminista tinha como base a razão e a ciência, a pós-modernidade se caracteriza pelo desenvolvimento tecnológico e informacional.





A idéia de "pós-modernismo" surgiu pela primeira vez no mundo hispânico, na década de 1930, uma geração antes de seu aparecimento na Inglaterra ou nos EUA. Perry Anderson, conhecido pelos seus estudos dos fenômenos culturais e políticos contemporâneos, em "As Origens da Pós-Modernidade" (1999), conta que foi um amigo de Unamuno e Ortega, Frederico de Onís, que imprimiu o termo pela primeira vez, embora descrevendo um refluxo conservador dentro do próprio modernismo. Mas coube ao filósofo francês Jean-François Lyotard, com a publicação "A Condição Pós-Moderna" (1979), a expansão do uso do conceito. (LIMA, 2004, p. 1)





Atualmente, as ciências definem pós-modernidade conforme sua área de estudo, mas originalmente,



significava a perda da historicidade e o fim da "grande narrativa" - o que no campo estético significou o fim de uma tradição de mudança e ruptura, o apagamento da fronteira entre alta cultura e da cultura de massa e a prática da apropriação e da citação de obras do passado. (LIMA, 2004, p. 1)



Contudo, a maioria dos teóricos concorda entre si que o pós-modernismo tem como ferramenta principal as tecnologias da informação.

Tecnologia e informação tornaram-se as bases para configurar um novo modelo de sociedade que vive o fenômeno da globalização, caracterizado pelo rompimento de fronteiras de tempo e de espaço, o que contribui para modificações de hábitos, de comportamentos e de valores individuais e coletivos.

A revolução tecnológica traz implicações não apenas no comportamento das pessoas, mas em especial, no conhecimento, na aprendizagem e nos meios de comunicação. Um novo cenário se re-configura, repercutindo diretamente sobre os processos de aprender e de ensinar com as tecnologias tanto nas instituições de ensino presencial, quanto nas que o oferecem na modalidade a distância.

Não se pode negar que a educação a distância se tornou um grande filão para os investidores da área de produção de softwares e equipamentos de suporte à comunicação em rede, fomentando a economia e ampliando o acesso de pessoas a esses meios comunicativos que promovem formação e interatividade.

Portanto, não procede mais o discurso pré-concebido de que a educação a distância esteja aquém da educação presencial, já que ambas tem suas particularidades, mas comungam os mesmos objetivos educacionais.

O crescimento acelerado das tecnologias e da oferta de cursos a distância causam inquietudes e fazem emergir questionamentos sobre as suas complexas possibilidades e também sobre as suas limitações.

Nesse sentido, almejamos neste trabalho, trazer a discussão acerca das potencialidades e limitações relacionadas a Educação a Distância - EaD , buscando ampliar a compreensão em torno deste assunto.Consideramos os aspectos pedagógicos, o impacto tecnológico provocado principalmente pelo advento do computador e a expansão do ensino superior.

No entanto, devemos conhecer o contexto da EaD, na tentativa de colaborar para uma melhor compreensão sobre suas possibilidades e suas limitações.



Contexto da Educação a Distância



A Educação a Distância, ao contrário do que alguns podem pensar, não tem sido uma invenção a partir da internet. Segundo especialistas, remonta da Era Cristã, caracterizada nas epístolas presentes na Bíblia, como meio doutrinário para todos aqueles, que mesmo distantes do aposto Paulo, pudessem seguir seus preceitos. Desde então, evolui-se para cursos por correspondências, tele-aulas, radiodifusão, até os dias de hoje, amparadas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC, em especial, as redes colaborativas de aprendizagem.

Segundo Mill et al (2008, p. 113)



No final do seculo XIX, a educação a distancia (EaD) surge nos Estados Unidos e na Europa como alternativa para atendimento a demanda por conhecimentos profissionais provenientes de pessoas que residiam em locais distantes dos centros mais desenvolvidos; que não haviam frequentado a escola na época adequada; ou que haviam passado por situações de fracasso nesse processo. Apesar de permitir que diferentes pessoas tivessem acesso ao conhecimento, a EaD não surgiu no cenário nacional sem restrições.





Aqui no Brasil, a EaD se consolidou com o artigo 80 da LDB 9394/96 , embora seus desdobramentos tenham sido enfatizados em 2007 com o programa Universidade Aberta do Brasil - UAB, ampliando consideravelmente o número de vagas à população com a oferta de cursos gratuitos de formação em nível: técnico, graduação e pós-graduação.

Diante das mudanças dos paradigmas educacionais,



[...] torna necessário que ampliemos o próprio conceito de EAD. Trata-se de conceber a educação em geral, e não apenas um setor especializado da mesma, a partir da mediação das tecnologias de comunicação em rede, já presentes na sociedade atual. (CRISTIANE NOVA, ALVES, 2003, p. 2).





Concebendo a Educação a Distância no sentido literal do termo, seria



qualquer modalidade de transmissão e/ou construção do conhecimento sem a presença simultânea dos agentes envolvidos. Nessa perspectiva, a difusão da escrita teria sido uma das principais (e até hoje mais eficazes) tecnologias aplicáveis a EAD. (CRISTIANE NOVA, ALVES, ibidem).





Assim, podemos compreender a EaD como uma das modalidades de ensino e de aprendizagem que abre uma vasta possibilidade de se utilizar dos suportes tecnológicos existentes, para promovê-la completamente à distância física entre ensinantes e aprendentes. Entretanto, esses suportes podem ser inseridos também em ensinos presenciais ou mistos.

Em virtude do mundo contemporâneo e a grande pressão para que os indivíduos dominem os instrumentos tecnológicos de comunicação e informação, muitas são as instituições, que gradativamente, vêm inserindo modelos pedagógicos híbridos.

Esses modelos combinam atividades presenciais com atividades a distância, tendo em vista, atender as necessidades individuais e coletivas e conciliar trabalho e formação. Incorpora-se a flexibilidade de tempo e de espaço, possibilitando às pessoas obter formação e conhecimento sem se deslocar de sua residência ou de seu escritório até a um campus, por exemplo.

Sob esse ponto de vista,



trata-se de conceber coletivamente sistemas de educação conectados às necessidades e objetivos atuais de nossa sociedade, a partir de perspectivas sociais, pedagógicas e éticas, que busquem explorar ao máximo as potencialidades trazidas pelas tecnologias, em processo contínuo de expansão acelerada. E, como educadores e cidadão de um mundo em transição, devemos estar preparados para conviver com uma educação com designs distintos daqueles que experimentara nossos avós, pais e nós próprios, a exemplo de processos similares vividos por outros setores da sociedade, como a medicina, os transportes, a economia, a política, etc. (CRISTIANE NOVA, ALVES, 2003, p.2)



Os desafios consistem entre outros, no desenvolvimento de ações tutoriais que estimulem aos estudantes a desenvolverem a autoaprendizagem, expondo seus diferentes pontos de vista e, coletivamente produzirem conhecimento significativo através das tecnologias.



As tecnologias afetam a produção, a energia, as comunicações, o comércio, o transporte, o trabalho, a família, assim como nossa maneira de viver, de trabalhar, de aprender, de nos comunicar, de sistematizar o que conhecemos e todas as atividades relacionadas com a educação e a formação; a informação não é estática e está acessível em múltiplos lugares (open learning) e pode ser obtida de forma gratuita por meio de enlaces virtuais (hiperlinks); a informação está organizada em várias linguagens de comunicação e de múltiplas formas: escrita, sonora, audiovisual, multimidiática. (FIORENTINI, 2009 p.138,139)





O próprio Ministério da Educação - MEC, no intuito de ampliar o acesso ao curso superior, criou em 2005 o sistema de Universidade Aberta do Brasil – UAB, priorizando a formação inicial a professores em efetivo exercício na educação básica, mas ainda sem graduação. A UAB também prevê a redução das desigualdades na oferta de ensino superior e o desenvolvimento de um amplo sistema nacional de educação a distância.

Apesar da crescente utilização das tecnologias da informação em EaD para reduzir distâncias, tanto do poder público, quanto da iniciativa privada, Pretto (2003) alerta que precisamos estar atentos, pois se isto não ocorrer em larga escala, poderemos estar legitimando, mais uma vez, uma cruel exclusão daqueles que já são excluídos.

O autor ainda ressalta que a internet foi a grande detonadora da sociedade da informação, sendo inclusive, um de seus pilares.



Assim, precisamos entendê-la não como uma questão meramente tecnológica, mas essencialmente, como um fator de cultura. (PRETTO, 2003, p. 37)

Este novo cenário sociocultural potencializado pelo computador e pela internet delineia a exigência de novos perfis pessoais e profissionais, impondo um



desafio constante e crescente aos educadores e aos sistemas formativos, pela introdução de importantes possibilidades de interação, intercâmbio de ideias e materiais, entre alunos e professores, entre alunos e dos professores entre si, entre alunos e a instituição de ensino superior. (FIORENTINI, 2009, p. 140).





Quanto mais cenários emergem, mais necessidades surgem no sentido de



[...] mediar os processos de aprendizagem por meio de ferramentas e ambientes virtuais, que possibilitem viabilizar a ocorrência de processos mais democráticos de relacionamento e de construção cooperativa de conhecimento entre os participantes, onde quer que estejam. Há uma força pedagógica

imbricada nesse contexto social de aprendizagem que pode apoiar a argumentação, aplicação, construção de conhecimentos entre indivíduos que se aproximam por meio de atributos e/ou critérios distintos (FIORENTINI, 2009, p. 144).





Percebe-se então, que a EaD deixa de ser apenas uma possibilidade de atendimento a superar barreiras físicas para tornar-se uma modalidade na qual a sociedade tem recebido numa escala cada vez maior, apesar da desconfiança inicial de que pudesse ser uma formação aquém da formação dos cursos presenciais.

Em 2004, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP – comparou o desempenho dos alunos matriculados em cursos presenciais e a distância, em treze áreas. Em sete áreas, os alunos da EaD, obtiveram desempenho superior nos conteúdos avaliados.



Potencialidades e limitações da EaD no ensino superior



De acordo com dados recentes do INEP, entre 2007 e 2008, o número de alunos matriculados em cursos superiores a distância cresceu 96,9% . Isso demonstra que uma parcela significativa da população tem aderido aos cursos por diversas vantagens, que dentre elas, Fortunato e Ferreira (2001), destacam:

• Eliminação ou redução de custos com deslocamentos tanto de alunos quanto de professores, podendo assim atender a um grande número de estudantes ao mesmo tempo.

• Oferta de cursos variados. Diversas são as áreas as quais já são possíveis cursar a distância, por exemplo, a área de formação de profissionais da educação, da administração, etc..

• Flexibilidade de tempo para aqueles que não podem, não querem ou não puderam, não quiseram freqüentar o ensino presencial, já que a organização do tempo de estudo não depende da instituição que o oferece, mas sim do próprio estudante, de acordo com suas possibilidades.

• O aluno é o centro da aprendizagem e o professor e os tutores, os mediadores. Além de ser considerado sujeito da própria aprendizagem, cada um pode aprender no seu ritmo.

• Conteúdos elaborados por especialistas e recursos multimídia que facilitam a interatividade, aqui, em especial, a internet e seus recursos, geralmente de fácil manuseio.

• A possibilidade de contribuir e receber muito mais contribuições a partir das interações em fóruns, chats, etc.



Mas, todas estas vantagens se potencializam se



[...] houver uma “humanização” do espaço ou meio onde são lecionados os cursos, tornando-os os mais interativos possíveis e aperfeiçoando-os com constantes remodelações e atualizações de forma que o ambiente seja dinâmico e não um espaço onde simplesmente é publicada a informação. Deve também haver cuidado de expor claramente os conteúdos para não suscitarem dúvidas e, no caso de estas existirem, devem ser prontamente retiradas e esclarecidas. (FORTUNATO, FERREIRA, 2001, p. 53)





A internet é um recurso potencialmente fomentador de aprendizagens, pois promove a integração das comunidades oferecendo informações de qualidade, troca de experiências entre os participantes das redes virtuais, e porque não dizer, inclui sujeitos e grupos anteriormente excluídos da “alfabetização” tecnológica. Porém, o seu uso no ensino e na aprendizagem sem um mediador que oriente seus alunos pode provocar mais cisão e discriminação do que interação entre os pares, já que o contato é desprovido do calor humano.

A internet tem um caráter mediador quando nos referimos a EaD, entretanto, para sua utilização eficiente e eficaz, não basta aos professores e tutores dominarem os recursos técnicos. É preciso ter senso crítico elaborado para não correr o risco da extrema didatização do ensino.



Limitações da EaD no ensino superior



A EaD é como uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que suas potencialidades são ressaltadas, há também as limitações. Dependendo da instituição, do curso, da região, enfim, de acordo com o contexto, as limitações se apresentam diferenciadas. Mas, de um modo geral,











no Brasil, as ações voltadas à educação a distância, principalmente, as que envolvem instituições públicas, associadas ou não às organizações não-governamentais, têm caráter de suprir a demanda gerada pelas deficiências do sistema formal. Essas ações buscam sempre compensar, de forma rápida, a defasagem na formação do trabalhador, seja ele professor ou não. (GOUVÊA, OLIVEIRA, s/d. p. 4)



Esta formação “aligeirada” fragmenta o conhecimento, a aprendizagem e, consequentemen-te, compromete a formação.



Em outras palavras, a incorporação das TIC é uma condição necessária, mas não suficiente para universalizar uma educação de qualidade: inclusiva, não contente com a equidade e com a massa dos “sobrantes” que este conceito pressupõe (BARRETO, PRETTO et al. 2003, p. 20).



Se “sobram” professores sem graduação e é oferecido a eles cursos a distância para inseri-los nas estatísticas dos “diplomados” em nível superior, a EaD se apresenta mais como uma maneira de “maquiar” as mazelas com a (de)formação docente brasileira do que propriamente democratizar o acesso ao ensino superior e promover formação de qualidade.

Outras limitações também estão presentes nos cursos de EaD:

• Normalmente, as turmas são grandes e as interações nos fóruns (principal forma de interação, pois há outras como: chat, e-mail, mensagens) podem se tornar massivas e, às vezes, desmotivantes.

• Ainda persiste a falsa ilusão de que “freqüentar” um curso em EaD é mais “fácil” que o presencial. Em virtude dessa concepção equivocada, há aqueles que têm dificuldade em lidar com processos de aprendizagem autônomos, que demandam de organização do tempo. E há aqueles que não conseguem se disciplinar com seus afazeres profissionais, pessoais e acadêmicos. Isto contribui para a não interação ou a participação esporádica nas discussões dos fóruns, por exemplo. Provavelmente, alunos com este perfil, colaboram para o índice estatístico de evasão na EaD.

• A internet é cara e de má qualidade. Das conexões oferecidas, mais da metade é inferior a 1 Mbps , não chegando, portanto, a ser considerada banda larga. Além da baixa velocidade há problemas freqüentes de instabilidade na conexão. Esta é uma constatação de uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC). O estudo a inda revelou que o valor pago para ter acesso à internet banda larga aqui no Brasil, é bastante elevado – cerca de dez vezes mais – se comparado a outros países, como por exemplo, Estados Unidos, Coréia do Sul, Japão e Rússia.

• Aqui no Brasil mesmo existindo programas de formação a distância gratuitos oferecidos pelo governo federal, caso o usuário não disponha de computador conectado a internet precisará freqüentar lan-houses, o que também gera custos.

• Mesmo havendo interativida-de entre professores, alunos e tutores, nem sempre é possível responder atender a todos em tempo hábil para sanar dúvidas ou orientar, já que, na maioria das vezes, a precarização do trabalho docente também se estende à EaD.

• Os registros precisam ser realizados com muito mais critérios e cuidados, pois nem sempre o que se escreve é exatamente o que outro lê. Tanto professores quanto alunos necessitam estar atentos. Na EaD, a escrita torna-se componente subjetivo que pode levar a várias interpretações, inclusive diversa daquela que o emissor pretendia transmitir ao seus receptores/leitores.

• Apesar de a essência da EaD ser ministrada superando fronteiras geográficas, o contato com a “frieza” das máquinas, ainda que interagindo com os pares, pode provocar, ao invés de aproximação, cisão entre os sujeitos.

• Nem sempre é possível acessar as ferramentas assíncronas, como por exemplo, os fóruns de discussões, porque em alguns casos, sites de hospedagem são desligados determinados horários do dia.

• As videoconferências demandam de altos investimentos, salas com equipamentos, sofisticados e de alto custo, softwares e profissionais especializados, o que muitas vezes, inviabiliza o atendimento a regiões mais distantes.



A educação e as Tecnologias de informação e comunicação



A inserção das TIC na educação parece ser irrevogável. Não se trata de algo fácil de ser implantado com equidade e qualidade tendo em vista as contradições sociais, políticas e econômicas do nosso país.



No entanto, já se tem algumas pistas dos caminhos a percorrer para que a integração dos novos meios técnicos aos processos educacionais aconteça no sentido da construção da cidadania e da emancipação e não do simples consumo. (BELLONI, 2001, p. 56)



Esta abordagem da autora chama a atenção para o fato de que apesar de o nosso meio estar sendo cada vez mais técnico e menos “natural”, as tecnologias precisam ser utilizadas com critérios e senso para uma educação de qualidade e não por puro modismo.

Nesta passagem de século para o terceiro milênio, a cultura midiática tem ditado regras, inclusive para os paradigmas educacionais. Moran (1995, s.p.) afirma que



as tecnologias de comunicação não substituem o professor, mas modificam algumas das suas funções. A tarefa de passar informações pode ser deixada aos bancos de dados, livros, vídeos, programas em CD. O professor se transforma agora no estimulador da curiosidade do aluno por querer conhecer, por pesquisar, por buscar a informação mais relevante.





Assim, cabe ao professor, coordenar o processo e contextualizar as informações de sues alunos, transformando-as em conhecimento.

As tecnologias, em especial, a internet, pode ser utilizada para desenvolver autonomia e capacidade intelectual. Na educação a distância, a internet tem sido uma ferramenta importante nesta construção, uma vez os alunos participam coletivamente expondo suas opiniões, ainda que alguns, não divirjam ou concordem entre si.



Considerações



A EaD é um progresso educacional para atender à demanda de uma sociedade dita pós-modernista. Entretanto, promovê-la em instituições públicas ou particulares não é garantia de qualidade nem de democratização de acesso ao ensino e aos bens intelectuais acumulados socialmente. Porém, é necessário ressaltar que mesmo apresentando limitações, a EaD tem alcançado êxito. Prova disso, são os resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes - ENADE mencionados nesta pesquisa.

Paulatinamente, a cultura centrada na figura do professor vai cedendo lugar para o aluno como sujeito autônomo e capaz de gerir a própria aprendizagem. Nesse sentido, mesmo com toda a fragmentação do ensino a distância, os estudantes que se organizam e se disciplinam dispostos a vencer são dignos de admiração.

Parte deste esforço decorre do uso do computador conectado à internet e a uma educação dos novos tempos. O aluno é o “comandante” de sua aprendizagem. Depende dele a idoneidade de realizar efetivamente as atividades propostas e compartilhá-las.

Parece que estamos, definitivamente, sinalizando para a educação dos novos tempos: estudando mais isoladamente e ao mesmo tempo com os grupos virtuais contribuindo para a aprendizagem colaborativa, aprimorando assim, nossas habilidades intelectuais.



Referências



BARRETO, Raquel Goulart. As políticas de formação de professores: novas tecnologias e educação a distância. In: BARRETO, Raquel Goulart. (org.) PRETTO Nelson de Luca. et al. Tecnologias Educacionais: avaliando políticas e práticas. Quartel: Rio de Janeiro, 2003, p. 10-23.



BELLONI, Maria Luiza. A integração das tecnologias de informação e comunicação aos processos educacionais. In: ______. Tecnologias educacionais e educação a distância: avaliando políticas e práticas. Rio de Janeiro: Quartet, 2001. p. 54-73.



CRISTIANE NOVA; ALVES, Lynn. Educação à distância: limites e possibilidades. Disponível em: . Acesso em: 31 ago./2010.



LIMA, Raymundo de. Para entender o pós-modernismo. Revista Espaço Acadêmico nº 35, abr../2004. Disponível em: Acesso em: 30 de ago./2010.



MILL, Daniel et al. O desafio de uma interação de qualidade na educação a distância: o tutor e sua importância nesse processo. Cadernos da Pedagogia, Ano 02, vol. 02, nº 04, ago./dez. 2008. Disponível em: . Acesso em: 25 de ago./2010.



PEREIRA, Eva Waisros; MORAES, Raquel de Almeida. História da Educação a distância e os desafios na formação de professores no Brasil. In: In: SOUZA, Amaralina Miranda de; FIORENTINI, Leda Maria Rangearo; RODRIGUES, Alexandra Militão (orgs.). Educação superior a distância: Comunidade de Trabalho e Aprendizagem em Rede (CTAR).Brasília: Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, 2009. Cap. 3, p. 65-86. Disponível em: . Acesso em: 25 de maio/2010.



PRETTO, Nelson de Luca. Desafios para a educação na era da informação: o presencial, a distância, as mesmas políticas de sempre. In: ____ et al. Tecnologias educacionais e educação a distância : avaliando as políticas públicas. Quartel: Rio de Janeiro, 2003, p. 29-53.



SETTE, Sônia Schechtman. A tecnologia contribuindo para uma escola cidadã. Disponível em: . Acesso em: 10 ago./2010.



SOUZA, Amaralina Miranda de; REGO, Elizabeth Danziato; CÓRDOVA, Rogério de. Pesquisa em educação a distância: desafios e Possibilidades. In: SOUZA, Amaralina Miranda de; FIORENTINI, Leda Maria Rangearo; RODRIGUES, Alexandra Militão (orgs.). Educação superior a distância: Comunidade de Trabalho e Aprendizagem em Rede (CTAR).Brasília: Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, 2009. Cap. 8, p. 203-228. Disponível em: . Acesso em: 25 de maio/2010.







sábado, 25 de setembro de 2010

DANÇA - A ESCOLHA DO SEU PAR

A ESCOLHA DO SEU PAR

"Nos bailes, as mulheres faziam umverdadeiro teste psicológico, físico e social de um futuro marido e obtinham o que poucos testes psicológicos revelam"



Há trinta anos, os adolescentes encontravam o sexo oposto em bailes de salão organizados por clubes, igrejas ou pais responsáveis preocupados com o sucesso reprodutivo de seus rebentos.



Na dança de salão o homem tem uma série de obrigações, como cuidar da mulher, planejar o rumo, variar os passos, segurar com firmeza e orientar delicadamente o corpo de uma mulher. Homens levam três vezes mais tempo para aprender a dançar do que mulheres. Não que eles sejam menos inteligentes, mas porque têm muito mais funções a executar. Essa sobrecarga em cima do homem permite à mulher avaliar rapidamente a inteligência do seu par, a sua capacidade de planejamento, a sua reação em situações de stress. A mulher só precisa acompanhá-lo. Ela pode dedicar seu tempo exclusivamente à tarefa de avaliação do homem.

Uma mulher precisa de muito mais informações do que um homem para se apaixonar, e a dança permitia a ela avaliar o homem na delicadeza do trato, na firmeza da condução, no carinho do toque, no companheirismo e no significado que ele dava ao seu par. Ela podia analisar como o homem lidava com o fracasso, quando inadvertidamente dava uma pisada no seu pé. Podia ver como ele se desculpava, se é que se desculpava, ou se era do tipo que culpava os outros.





Essa convenção social de antigamente permitia ao sexo feminino avaliar numa única noite vinte rapazes entre os 500 presentes num grande baile. As mulheres faziam um verdadeiro teste psicológico, físico e social de um futuro marido e obtinham o que poucos testes psicológicos revelam. Em poucos minutos conseguiam ter uma primeira noção de inteligência, criatividade, coordenação, tato, carinho, cooperação, paciência, perseverança e liderança de um futuro par.



Infelizmente, perdemos esse costume porque se começou a considerar a dança de salão uma submissão da mulher ao poder do homem, porque era o homem quem convidava e conduzia a mulher.



Criaram o disco dancing, em que homem e mulher dançam separados, o homem não mais conduz nem sequer toca no corpo da mulher. O som é tão elevado que nem dá para conversar, os usuais 130 decibéis nem permitem algum tipo de interação entre os sexos.



Por isso, os jovens criaram o costume de "ficar", o que permite a uma garota conhecer, pelo menos, um homem por noite sem compromisso, em vez de conhecer vinte rapazes numa noite, também sem compromissos maiores.



Pior: hoje o primeiro contato de fato de um rapaz com o corpo de uma mulher é no ato sexual, e no início é um desastre. Acabam fazendo sexo mecanicamente em vez de romanticamente como a extensão natural de um tango ou bolero. Grandes dançarinos são grandes amantes, e não é por coincidência que mulheres adoram homens que realmente sabem dançar e se apaixonam facilmente por eles.



Masculinizamos as mulheres no disco dancing em vez de tornar os homens mais sensíveis, carinhosos e preocupados com o trato do corpo da mulher. Não é por acaso que aumentou a violência no mundo, especialmente a violência contra as mulheres. Não é à toa que perdemos o romantismo, o companheirismo e a cooperação entre os sexos.



Hoje, uma garota ou um rapaz tem de escolher o seu par num grupo muito restrito de pretendentes, e com pouca informação de ambas as partes, ao contrário de antigamente.



Eu não acredito que homens virem monstros e mulheres virem megeras depois de casados. As pessoas mudam muito pouco ao longo da vida, na realidade elas continuam a ser o que eram antes de se casar. Você é que não percebeu, ou não soube avaliar, porque perdemos os mecanismos de antigamente de seleção a partir de um grupo enorme de possíveis candidatos.



Fico feliz ao notar a volta da dança de salão, dos cursos de forró, tango e bolero, em que novamente os dois sexos dançam juntos, colados e em harmonia. Entre o olhar interessado e o "ficar" descompromissado, eliminamos infelizmente uma importante etapa social que era dançar, costume de todos os povos desde o início dos tempos.



Se você for mãe de um filho, ajude a reintroduzir a dança de salão nos clubes, nas festas e nas igrejas, para que homens aprendam a lidar com carinho com o corpo de uma mulher.



Se você for mãe de uma filha, devolva a ela a oportunidade que seus pais lhe deram, em vez de deixar sua filha surda, casada com um brutamontes, confuso e insensível idiota.





Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)